•F e l i c i d a d e•

Maria queria o mundo,que ao ver dela era bem maior do que sua mãe dizia,pobre a mulher que dera a luz a menina. Nada sabia. Suas costuras eram a única coisa que podia fazer,os estudos que ela tivera foram poucos. Afinal mulheres nasceram para parir e não para ler, casou-se bem cedo e logo exerceu seu papel de mulher, foi mãe de Inácio,Pedro,Carmélia e da pequena Maria do Rosário,a quem incumbiu o papel de ser tudo o que ela não pôde e de fazer tudo o que tivera vontade.
Cuidou da menina como quem cultiva uma flor pequena e delicada e fez dela uma jovem com finos traços da beleza simples, recheada com palavras difíceis e um gênio bem forte. Maria veio ao mundo pela obrigação que ás mulheres era imposta,era mulher mas só se deixou ser chamada como tal quando se entendeu,ela estudou,e se formou nas artes de ser . Foi a primeira de sua árvore a saber ler,mas não se casou por amor,por que nem tudo se pode escolher.
Seu pai,logo tratou de fazê-la entender que a ditadura de servidão que a perseguia não acabaria só por que ela era letrada ou por que sabia diferenças gramaticais,seu martírio maior ainda estava ali, e por mais que ela tentasse,nada podia fazer. Viu sua mãe,Francisca,se calar perante o destino dela com decepção no olhar cansado. Rendida a duras penas casou-se então com Joaquim e foi mãe de Flora,Leopoldo,Açucena,Antonia e Benjamim.
Para sua filha Antônia era reservado o mesmo destino,tão certo como dois mais dois são quatro.
Ela era menina moça,tinha renda na barra do vestido branco e carmim cor-de-rosa no pálido lábio.
E tinha vontades exprimidas no coração prometido ao filho mais velho da família mais rica. Antonia queria ser mãe das suas vontades e não dos filhos que queriam que ela tivesse,ela queria amar de verdade quem o coração escolhesse e se entregar por própria vontade a quem o corpo quisesse. E assim foi, em uma dessas noites que a lua guarda,deu seu beijo e amou um amor que nunca ninguém viu igual. Pagaria um preço pelo ato,mas não se importava, nada era pior do que viver prisioneira da vontade de ser e nunca ser.
Foi embora para longe dos olhos de quem a queria mal,com seu amor a tira colo,proferindo-lhe promessas de uma vida que fora vivida do jeito que ela ditou.
Antonia causou-se e amou,foi mãe e avó e bisavó foi livre e podia jurar em suas noites na janela que via as mulheres que antes dela não puderam,sorrirem agradecidas pela liberdade felizque ela finalmente conseguira.
Comentários
Postar um comentário